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sábado, 16 de novembro de 2013

FUMEIRO DE LAFÕES

 Eu sei que é "jogar em casa", fazer testemunho do que de bom ainda se vai encontrando pelas terras que também foram, e nunca deixam de ser,  as nossas.
 Aborda-se o mau e o bom, que o testemunho tem as duas valências.
 Desta feita, acicatado por uma foto que me chegou, via mão de amigo, duma mostra recente de chouriças caseiras, lá da Região de Lafões, dou conta do fumeiro tradicional que, conhecedor presencial das realidades de Norte a Sul do País,  nesta área, pede meças a qualquer outra.
 Tradição caseira, os métodos de confecção foram-se mantendo ao longo dos tempos, e, não há muito tempo, passe a publicidade, para lá de outros locais e estabelecimentos,  almoçar no "Meu Menino" em Vouzela, sem as saborear no cozido, ou comprá-las no talho do Orlando Santos, em S. Pedro do Sul, de fabrico próprio, era desprezar um dos muitos e bons  marcos da gastronomia de Lafões.
  Mas, mais do que o reconhecimento, ocorreu-me, num lampejo da memória, o dia em que a minha saudosa avó paterna, me apanhou em flagrante delito em busca dum dos seus enchidos de eleição, confeccionados a partir da carne dos recos nascidos e alimentados a rigor, nas imediações da residência.

De férias escolares, em casa dos meus avós, numa aldeia de Lafões, onde o fumeiro era confeccionado na casa de cada qual, mas pelos mesmos métodos tradicionais, sempre que o grupo da geração se juntava, em especial aos fins de semana, o nomeado por escala, tinha que fornecer o petisco para a "trainada". A princípio, ainda ousei pedir as "chouriças" à minha saudosa avó, de cujas mãos saiam autênticas iguarias caseiras. Depois, a despeito das suas recomendações para nunca as tirar da talha do azeite com as mãos, e porque, à enésima vez, temi pela recusa, "alambazei-me" e  comecei a servir-me por conta própria. Por mais uma ou duas vezes, sempre que estava nomeado de vagomestre dos convivas, até que um dia, fui seriamente advertido pela minha avó, que me levou ao local do crime e me colocou perante a evidente prova do delito: desde o fundo da Adega, até à porta, não havia como ocultar um largo rasto de azeite. 
A "escala" não foi alterada, mas vi-me obrigado a passar para outro patamar, na roda dos alimentos. Com o lamento de todos, que aquele "material" assado com "cachaça" de vinho era um autêntico hino à Gula!...
A tradição e os métodos de confecção, permanecem pela Região.....Ai ué, ai Deus e ué?!